A Cachoeira de Paulo Afonso, por Euclides Vieira Malta - Governador de Alagoas.

03/04/2013 16:29

 

CACHOEIRA DE PAULO AFONSO

 

Ao inspirar-vos o anno passado a idéa do aproveitamento da força hydraulica da Cachoeira de Paulo Affonso, mal pensava se desfechariam contra ella e contra todos que filiaram-na os golpes da mais reprovada má fé, si não da mais deplorável ignorância em semelhante assumpto.

 

Foi uma verdadeira campanha travada, valendo-me impropérios de toda a espécie, que despresei sempre, cônscio da alta conveniência de dar quanto antes corpo legal á mesma idéa.

 

Duas razões actuaram em meu espírito, as quaes plenamente justificaram a autorisação que vos solicitei e me concedestes, para poder contractar o alludido aproveitamento: uma, assentava no desejo de ver bem definido e firmado o direito de domínio do nosso Estado sobre essa Cachoeira, que é o seu mais magestoso monumento levantado pela natureza; domínio contra o qual mais de uma voz se tem erguido sem fundamento algum. A outra razão visava o engrandecimento e properidade da nossa Pátria, que hoje, como nunca, muito precisa de novas fontes productoras afim de marchar inpávida no caminho do futuro.

 

Que a Cachoeira de Paulo Affonso é nossa, affirmam a tradição a mais antiga e os documentos públicos entre estes a Geographia Geral de Pompeu, de 1869, e a Alagoana do nosso conterrâneo, de saudosa memória, Dr. Thomaz do Bomfim Espíndola, de 1871, vejamos:

 

“O pequeno rio Moxotó, diz este, nasce na serra do Araripe em Pernambuco, separa esta província da de Alagoas e depois de um curso um pouco mais de dez léguas, deságua légua e meia acima da Cachoeira de Paulo Affonso”.

 

Diz Pompeu: “A Província das Alagôas ano norte e noroeste limita-se com Pernambuco pelo riacho Persinunga, rio Uma e seu confluente Jacuhype, serra Pellada, rio de S. Francisco até o rio Moxotó, seu afluente, que deságua seis léguas acima da Cachoeira de Paulo Affonso”.

 

Por toda a parte admiravam-se simplesmente, até há pouco, as bellezas naturaes desses caudaes, mas veiu a indústria encaminhada pela sciencia provar que as quedas d’água são muito mais úteis que bellas, intelligentemente aproveitadas.

 

Hoje a força hydraulica é uma fonte perenne de riquezas nos Estados Unidos da América do Norte, na Itália, na França e na Suissa, sendo certo que em outros paízes os governos e industriaes já estão ligando o maior interesse a esse importante assumpto.

 

Os Syndicatos se formam, já que só pela união dos capitães poderá emergir a força necessária para a utilisação desse grande elemento de prosperidade pública e particular.

 

Eis porque não quis que meu Estado se mostrasse mais retardatário em uma questão de futurosas conseqüências e agora, como o anno passado, devo assegurar-vos, são inabaláveis a minha convicção e a minha esperança a respeito do aproveitamento da Cachoeira de Paulo Affonso.

 

Euclides Vieira Malta[1].



[1] Falas de Alagoas, 1903. Bacharel Euclides Vieira Malta – Governador de Alagoas. Mensagem de 21 de abril de 1903, dirigida ao Congresso Alagoano, por occasião da installação da 1ª sessão ordinária da 7ª legislatura em 21 de abril de 1903.